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Diante dos olhos - 2 (Novos ares)

2

Novos ares

 

            Após a morte de Alyson e duas semanas depois do falecimento do pai dela, a mãe de Aly vendeu a casa e mudou-se para outra cidade, onde seus pais moram. Mas antes de partir, ela chama Will à casa dela e lhe entrega o diário da filha para ele.

            - Tia, você tem certeza de que quer se desfazer das coisas da Aly?

            - Will, este diário aqui deve ficar contigo. Nele está a história de vocês, não a minha com ela, mas a sua com ela. Por isso ele é de direto seu.

            Ela entrega o objeto nas mãos de Will e lhe abraça.

            Os dias se passam, a casa vazia deixa a lacuna ficar a cada dia mais profunda. E o garoto sempre espera aquela porta abri e vê sua amiga sair de lá sorrindo como sempre.

            Morar naquela rua não é mais como antes. Tudo mudou, nada será como antes, apesar dele continuar morando ali, as histórias têm novos aromas, novos personagens, novo tracejar nas linhas até então em branco. Claro que os dias não seriam como os de outrora, afinal “O tempo não para”. Até porque Alyson não ia mais entrar no quarto do amigo como um boi desgovernado, transbordante de vida e propagando felicidade por todos os cantos e em todos a sua volta. Até porque agora uma nova família morava na casa de número 12, a nova dona até pitou a fachada de um branco, como ela diz, gelo. Apagou de vez o rosa Alyson.

             A nova residência tem passos diferentes, pois agora não é mais uma vizinha e amiga de Willycson, mas um vizinho e quase amigo. Pode-se dizer que este é mais um conhecido bem chegado. Afinal, reside ali um garoto com seus 15 anos, chamado de Maurício Guedes. Ele tem uma irmã de 13 anos, a bela e sensível Amanda Lyah. Esta não ocupará o vazio que Alyson deixou na vida de Will, mas será uma figura importantíssima nos novos capítulos vivenciados por ele. Com ela, o garoto viverá um dos sentimentos mais nobre sentido pelos homens: o amor.

            Se esse amor será na mesma proporção do que ele sentiu por Alyson, não será possível medir. No entanto, pode-se afirmar que poderá ser inferior ou superior, jamais igual.

            O clima na escola também não é como de outrora. Todos os dias quando Will entra na sala do 8º ano, ao se sentar na cadeira, olha para o seu lado esquerdo como de costume, mas ali não está mais Aly sentada com o seu sorriso, com as tiragens de onda e com o seu material escolar impecavelmente conservado. Até parecia comprado no exato momento de uso, todos os dias de aula, durante todo o ano letivo. Agora o lugar pertence a uma nova aluna e também vizinha de Will, a novata Amanda Lyah.

            Ela até é uma boa menina, tem lá seus momentos de descontração, mas não se dar para comparar o jeito que Aly via a vida, como ela se relacionava com os demais. Como se dizem por aí: ninguém é insubstituível, e ninguém é igual ao outro.

            A amizade de Will e Amanda ficam a cada dia mais fortalecido. E com o passar dos dias se tornam em namoro.

            Durante as férias, a tarde está meio triste e nublada. Will senta-se em sua cama, pega o violão e começa a tocar e cantar uma canção preferida de tantas de Alyson, Eclipse Total, da banda de forró Capim com Mel. Cada verso cantarolado é como um flash de lembrança se materializando em sua retina. Logo acontece o inevitável, o percurso de uma lágrima, bem como canta a bela voz da cantora e compositora de músicas de forró Rita de Cássia. Neste momento, Amanda adentra ao quarto. Ela abre a porta do ambiente onde está o garoto e ao vê-lo emocionado ao cantar e tocar o seu violão, fica na soleira da porta lhe observado em silêncio. Ele demora a perceber a presença da namorada, quando ergue a cabeça e a ver, interrompe a música e enxuga as lágrimas. Involuntariamente tentar desfaçar, mas não é possível este feito.

            - Oi, amor! – Diz o garoto.

            Coloca o violão sobre o colchão.

            - Faz tempo que você está aí?

            - O suficiente para te ver chorar por Alyson.

            Ele se levanta e caminha até o banheiro para lavar o rosto.

            - Já te disse que não quero e não posso ter ciúmes dela, mas confesso que não consigo. Porque sei que você jamais vai me amar como ainda a ama.

            - Mor! – Volta do banheiro. – Relaxa! Não estava chorando e nem pensando nela. Apenas cantando uma canção que me toca profundamente. Será que não há nenhuma música que te deixe emocionada, não?

            Caminha até a cadeira da escrivaninha e se senta. E começa a mexer nos livros da escola. A moça vai até ele, abraça-lhe e lhe beija.

            - Você não vai tocar mais não?

            - Eu preciso fazer as tarefas da escola.

            - Oi?! – Fica ereta e cruza os braços. – Como assim Willycson? Estamos de férias, as aulas só voltam a duas semanas e você já tem tarefas? Se esqueceu que vamos fazer o mesmo ano escolar e que vamos estudar novamente na mesma turma?

            Ele fecha o livro de português, fica olhando para ela e volta a visão para os materiais da escola novamente.

            - Eu quis dizer que precisava arrumar o material escolar para verificar o que está faltando. Mainha pediu para eu relacionar os itens que ainda faltam comprar.

            Coloca item por item dentro da bolsa, sem olhar mais para Amanda.

            - Como você está muito ocupado com suas tarefas, eu estou indo.

            Sem deixar de fazer o que estava fazendo, fala para a namorada:

            - Espere um pouco, deixe-me terminar isto que a gente vai conversar um pouco.

            - Eu tinha esquecido que mainha pediu para eu ir à padaria comprar umas coisas.

            - Eu vou contigo.

            - Não é preciso. Vou lá!

            Dá um beijo no rosto dele e sai.

            Quando ela sai do quarto dele, Will para de fazer o que estava fazendo, dá um suspiro profundo e coloca a cabeça entre as pernas e abafa um grito de ira.

 

            Ao voltarem às aulas, Will sente falta dos amigos que passaram para o ensino médio e estão estudando em outra escola. Na Wilson Linhares ficaram apenas ele, Amanda Lyah Guedes e Solange, a melhor amiga de Alyson Duarte. Ambos estão frequentando o 9º ano A. Neste ano, o irmão de Will, o Miguel Martins passou a frequentar a mesma escola do irmão mais velhor, o garoto está fazendo o 6º ano B.

            Os demais alunos, como Fernando Martins, Iolanda Saboia, Philip Torquato, Matheus Vieira, Karol Capistrano e o irmão de Amanda Lyah, Maurício Guedes, passaram a estucar na Escola Fernando Sabino, todos na 1ª série A do Ensino Médio.

            Este novo ano parece que será tão ruim quanto o anterior para Will Martins, não só por não ter mais a sua galera, não só por ainda sentir falta de sua grande paixão e amiga, mas pela presença de Ronald Raphael Pinheiro.

            A família de RR acabou de se mudar para Santo Antônio. Ele frequentará a mesma sala de aula de Will, apesar de ser mais velho e repetente, teve de ficar no 9º ano A porque não há outra turma deste ano escolar no turno matutino, a turma B é no vespertino.

            Por ele até estaria estudando no período da tarde, mas sua mãe preferiu matriculá-lo no período da manhã, assim tem como ela ficar de olho nele à tarde. Pois de manhã ela está ministrando aulas na Fernando Sabino, já que é professora de Biologia desta instituição de ensino.

            RR é um jovem problemático, desde que seu pai foi assassinado por agiotas, o rapaz não se conforma e vem dando muita dor de cabeça para a sua mãe, Marília Pinheiro. Ela era professora de uma escola particular em Goianinha, como passou no concurso para professores do Estado do Rio Grande do Norte no ano anterior e com a convocada para atuar na cidade de Santo Antônio, teve de mudar de ares, o que não agradou nada, nada ao filho, afinal, ele acaba de perder o vínculo com os amigos, o que para sua mãe deve ser uma saída para o filho das más influências e quem sabe o garoto passe a ter um comportamento menos agressivo. Mas para ele é apenas uma ruptura da vida que tinha, até porque ele está em uma nova cidade, uma nova escola, repetindo o mesmo ano escolar e tem de fazer novos amigos ou inimigos.

            Quando adentra à sala de aula, fixa o olhar em Will, adquire de graça uma “inimizade”. Caminha lentamente entre as fileiras de cadeiras e, logo, senta-se em uma cadeira atrás de Amanda.

            - E aí, gata! Vamos dar um rolé depois da escola?

            Sem olhar para trás e nem para Will, responde ao novato:

            - Não costumo sair com estranho, certo, estranho?!

            - Não seja por isso. – Levanta-se e a cumprimenta. – RR ao seu bel prazer, gata.

            Tenta pegar na mão dela para beijar.

            - Larga minha mão, garoto.

            Will resolve se meter na conversa dos dois. Levanta-se e o encara:

            - Acho que minha namorada já disse que não quer falar contigo, estranho.

            - Não sou mais estranho, já disse que me chamo RR. – Fala alto e ao término, rir.

            Enquanto isso, o professor de matemática Francisco Vargas vai entrando em sala.

            - Bom dia! Sejam bem-vindos, turma, ao 9º ano. Por favor, será que os dois rapazes aí podem se sentar?

            - Claro, professor! – Exclama Will.

            - Já foi, fessor! – Diz RR.

            A aula é iniciada, enquanto isso RR fica fitando os movimentos de Will. E de vez enquanto passa a mão de leve no braço esquerdo de Amanda. Ela tenta se afastar das investidas dele, e não demonstra estar incomodada com a situação para Will, assim evita um confronto entre o namorado e o recém-chegado à turma.

 

            Durante o intervalo, Amanda e Will estão encostados a um pilar do corredor da escola, quando RR se aproxima e joga suco de caixinha nas costas de Will.

            - Que porra é essa, cara?! Você por acaso está com as mãos cagadas que não pode segurar uma caixinha de suco?

            - Molhou aí, irmão?

            - Não sou seu brother, estranho!

            Will vai para cima do rival. A namorada tenta impedir o confronto entre os dois.

            - Will, vamos! Não precisa disso.

            Quando parecia que os dois iam sair na porrada, o orientador pedagógico se aproxima e coloca um fim ao pré-embate dos dois alunos.

            - Ronald Rafael, já vai iniciar o ano letivo com brigas, rapaz?

            - Relaxa! Foi só um papo com meu camarada aqui, orientador. – Bate a mão direta no ombro esquerdo de Will, que desvia bruscamente.

            - Assim espero. É melhor vocês ficarem bem longe um do outro.

            RR sai com um sorriso maquiavélico no rosto. Enquanto Amanda Lyah tenta acalmar o namorado.

            - Relaxa, mor! – Beija-o.

 

            O fim de semana chega, os amigos marcam uma noitada na pizzaria do Théo Vitória. O grupo de amigos estão felizes em volta de uma longa mesa e contam como foram os primeiros dias de aula. Maurício Guedes faz um convite para Will de pedirem permissão a Théo Vitória para tocarem, já que não há nenhuma atração musical neste sábado.

            - Vamos! Mas precisamos de mais gente.

            - Claro, brother! Eu fico no teclado, você no vocal e violão, Philip no baixo, Fernando na bateria, Matheus na guitarra, Solange e Iolanda serão backing vocal.

            Maurício distribui as funções de cada integrante da banda.

            - Eu ficarei aqui registrando todos os momentos, filmando e tirando fotos, com a Karol. – Abraça a amiga.

            Will sorrir com as palavras de Amanda e lhe dá um beijo rápido.

            Maurício vai falar com Théo, enquanto isso a galera vê entrando na pizzaria um velho conhecido, o Evan Dumaresq na companhia do irmão Son. Eles veem o grupo de amigos e se aproximam.

            - Gente, que coisa boa ver vocês dois. – Diz Iolanda.

            A jovem é a primeira a se levantar e abraçar os amigos. Atitude repetida pelos demais. Maurício volta à mesa e se apresenta aos dois novos membros do grupo, logo após Will apresentar Amanda Lyah Guedes para Evan e Son, que a cumprimentam com um beijinho de um lado e do outro.

            - Gente, tudo certo. Vamos ao palco?

            Os componentes da banda se dirigem ao palco. E os demais continuam à mesa apreciando o show dos amigos.

            - Boa noite, galera! – Will cumprimenta todos os presentes. – Vamos fazer uma apresentação musical, rapidinha, aqui para vocês. Esperamos que vocês curtam.

            Os clientes da pizzaria aplaudem os meninos, principalmente quando eles começam a tocar a música de Legião Urbana, Monte Castelo.

            No meio da apresentação da turma, RR adentra à pizzaria. Fica em pé na entrada observando o movimento, olha para o palco e dá um risinho falso no canto da boca. E aproveita que Lyah está sem a companhia de Will para se aproxima dela. O que deixa o cantor irado, mas tenta desfaçar a ira para não atrapalhar a sua apresentação, afinal, quando se está no palco tem de ser profissional, um lema que ele sempre levou a sério.

            - Boa noite, gata!

            Sem querer saber se será convidado ou não para se sentar à mesa, vai sentando assim mesmo sem nenhuma cerimônia.

             - O que você está bebendo?

            - Suco. O que mais seria? Há! Poderia ser refrigerante, mas não. – Diz com um tom sarcástico. – Sou uma menina que preza pela saúde corporal.

            Volta a apreciar o show dos amigos e finge não se importar e nem dá atenção para a presença de RR.

            - Também sou um cara saudável. Garçom, por favor!

            Ele pede um suco de laranja com duas pedras de gelo, o mesmo que Amanda está bebendo. Quando o garçom vai saindo, o rapaz pede uma pizza de quatro queijos, tamanho médio.

            - Você gosta de pizza quatro queijos, linda?

            Sem olhar para ele, a menina lhe responde movimentando a cabeça de forma negativa.

            - Não tem problema. Estou varado de fome. E os rapazes aí, estão comendo pizzas?

            - Valeu, cara! Mas estou esgotado, já comi demais. – Diz Evan.

            Son não responde à pergunta de RR e continua cantando com os amigos.

            Will dá uma pausa na apresentação e pede para Iolanda assumir o seu lugar. Ele sai do palco e se aproxima da mesa da namorada e a chama para ir a outro lugar.

            Amanda vai se levantando quando RR pega em sua mão.

            - Já vai, meu amor!

            - Não sou seu amor, estranho.

            A garota movimenta a mão para que ele a solte, mas a atitude não adianta. Will se aproxima e segura com força a mão de RR, fazendo-o largar a mão de Amanda.

            - Já lhe falei para não mexer com ela, cara.

            RR se levanta para encarar o rival.

            - Por que eu devo te obedecer, cornão?

            Son e Evan vendo que os dois pretendem sair na mão, levantam-se e afastam Will de perto do rival. O grupo vai para próximo do palco. Enquanto os irmãos e Karol se divertem ao som da banda dos amigos, Will e Amanda batem um papo.

            - Você tem de se controlar. É isso que ele quer, Will, te deixar descontrolado. E você está caindo na pilha dele.

            - Esse cara me tira do sério. Fico irado só em sentir a presença dele.

            Enquanto os namorados conversam encostados na parede próximo ao palco, RR fica os observando de onde está. E prepara a próxima investida a Amanda Lyah Guedes.

            Will volta ao palco e assume o vocal novamente, dessa vez, o rapaz anuncia um forrozinho, e a música escolhida é jeito de amar, de Rita de Cássia.

            Quando a música começa, RR se levanta e caminha até Amanda, pega-a pela cintura e a tira para dançar. Will fica em ponto de explodir de raiva, mas segue firme cantando.

            A garota tenta se desviar das mãos de RR, mas acaba se deixando levar pelo som da música e passa a dançar com ele, sem muita empolgação, pois tem receio da reação do namorado. O vilãozinho tenta se aproveitar da baixa de guarda de Amanda.

            Evan vê que a namorada do amigo não está nada confortada com a situação, nem tanto o amigo, Will, sobre o palco. O rapaz resolve ir até Amanda e a chama para irem tirar umas fotos. RR não gosta da intromissão de Evan e tenta tirar satisfação.

            - O que foi, viadinho?

            - O que foi o quê, cara?

            - Você aqui atrapalhando o meu lance com a gata.

            - Que lance, estranho? Não tenho nenhum lance contigo, garoto.

            RR tenta agarrá-la para continuar dançando.

            - Me larga! – Grita.

            - Acho que o recado já está dado! – Exclama Evan, afastando-o de perto de Amanda.

            RR mete as mãos no peitoral de Evan, o que o faz cambalear para trás. É a deixa para Son deixa de forrozear com Karol e se aproximar dos demais.

            - O que foi isso aí, cara? Tá querendo agredir o meu irmão.

            - O viadão veio defender o viadi...

            Son não deixa RR terminar a frase e lhe dá uma de direita na cara do revoltado. O rapaz cai no chão, a banda para de tocar e Théo se aproxima para apartar a briga entre Son e RR, que se levanta irado e de punho cerrado para bater no rival.

            - Acho melhor vocês dois saírem daqui. Não quero confusão no meu estabelecimento. Bora saindo.

            Son, Evan, Karol e Amanda saem da pizzaria. Em sequência vem RR com a mão limpando o sangue do nariz.

            Os amigos se despedem do público, descem do palco e vão em direção aos amigos.

            - E aí como vocês estão? – Procura saber Will.

            Ele abraça Amanda e fica fitando RR que se encontra do lado da rua.

            - Quem é esse garoto encrenqueiro? – Pergunta Iolanda.

            - Um moleque que estuda com a gente. – Responde Amanda.

            - Desde dos primeiros segundos que ele entrou na sala de aula, vem querendo brigar. – Diz Will.

            - Ele está dando em cima de você, mana?

            - Mau, acho que ele apenas está tentando buscar confusão com alguém e viu em mim uma oportunidade de tirar Will do sério. Acho que está funcionando.

            - Como é, Amanda? Você está querendo dizer que a culpa é minha. Que estou dando importância demais para esse escroto?

            - Will, se você não levasse muito a sério as provocações dele, com certeza ele já tinha desistido.

            - É bom saber o que você pensa dessa situação toda. O cara chega já querendo me tirar para Cristo e a culpa é minha. Eu que estou dando bola demais para as tiradas de onda desse verme. – Ironiza.

            Will fica superirritado e sai de perto do grupo, vai em direção a sua residência.

            - Você vai sair assim, Will? – Grita Amanda.

            Ele não olha para trás e dá com a mão sobre a cabeça, demonstrando que não se importa para o que ela estava pensando ou deixando de pensar sobre.

            Evan se despede de todos e corre para acompanhar o amigo, Will.

            - Espera aí, Will.

            Ele para, vira-se e fica esperando Evan se aproximar.

            - A noite foi empolgante hoje. – Diz ao se aproximar.

            - Nem tanto.

            Eles continuam a caminhada.

            - Você está de passagem novamente em Santo Antônio?

            - Desta vez vim para ficar. Meus pais decidiram se mudar para cá. Papai vai trabalhar na prefeitura de Nova Cruz, e como temos casa aqui, fica melhor morarmos em Santo Antônio do que alugar uma casa lá.

            - Que bom! Você me traz bons momentos de lembrança.

            - As férias aqui sempre foram boas. Mas...

            - Sei como é. Mas agora não tem mais a companhia da tua prima.

            - Ainda sinto falta da voz dela, nem que seja via telefone.

            - Eu que o diga. Toda vez que chego em casa, espero vê-la sair pela porta da casa ao lado, mas...

            - Quem sai de lá é Amanda.

            - Isso.

            - Eu gostei dela. Parece ser uma boa pessoa.

            - É. Só que ainda é muito imatura quando o assunto é relacionamento.  

            - Nossa! Está falado o expert em namoro. O madurão!

            Os garotos começam a rir, tanto que param de andar.

            - Cara, só você para me fazer relaxar. Estava precisando de uma boa e velha companhia. Estava me sentido tão só. Amanda às vezes me sufoca demais e Maurício não é tão legal e presente assim. É muito bom saber que você estará aqui do meu lado, amigo. – Põe a sua mão esquerda no ombro direito de Evan. – Principalmente agora com esse cara sempre querendo me tirar do sério.

            Will dá um abraço caloroso em Evan.

            - Cê, aceita dormir lá em casa hoje?

            - Vou. Recordar os velhos tempos.

            - Recordar os velhos tempos? – Dá uma pausa, desvia o olhar e após um tempo volta a falar. – Não sei se estou pronto para reviver o que vivemos em outras épocas. Mas lhe ofereço um velho colchão, por enquanto.

            - Claro! Não esperava nada além do que isso. – Rir.

            Os dois seguem o caminho, conversando.

 

            Mais um dia desperta. Na residência da família Pinheiro, RR se acorda, vai ao banheiro, escova os dentes, toma banho, arruma-se e vai à mesa para tomar o seu café da manhã. Chega à cozinha, senta-se e começa a se servir.

            Sua mãe que está à mesa tomando uma xícara de café preto, põe-la no pires e fica em silêncio olhando para o filho, até que resolve quebrá-lo.

            - Bom dia, meu filho!

            RR continua fazendo a sua atividade sem dá a mínima atenção para a mãe.

            - Hoje eu vou passar lá na escola para falar com o orientador pedagógico, Túlio Silva. Como tenho apenas os três primeiros horários hoje, posso passar por lá e podemos voltar juntos.

            - Não será preciso. Eu sei o caminho de casa.

            - Mas se eu estarei lá na escola e posso te esperar após falar com Túlio, por que não?

            - Depois da aula vou dar uma volta pela cidade. Vou encontrar uns amigos.

            - Que bom que você já fez novos amigos. Estava preocupada, principalmente depois que Túlio telefonou para mim, querendo conversar comigo. Pensei que você já tinha se metido em confusão.

            - Você sempre pensa coisas ruins ao meu respeito.

            - Não é isso. É que você vem se metendo em brigas e outras coisas nos últimos anos. E achei que uma nova cidade e uma nova escola pudessem te fazer mudar.

            - Por que tenho de mudar?

            Altera a voz e olha em direção aos olhos da mão.

            - Por acaso tenho de ser uma marionete tua?

            - Não. É que...

            - Não sou teu brinquedinho. Teu ursinho de pelúcia. Apenas teu filho. Infelizmente. Saiba que tenho uma vida bem independente da tua.  Não sou uma extensão da sua vida medíocre.

            - Ronald Rafael, será que não podemos ter uma conversa civilizada, não?

            - Não. – Levanta-se. – Tua voz e tua presença me irritam. Você... preciso ir agora.

            Ele pega a mochila e vai saindo de casa.

            - Espere! Eu te levo. A tua escola é próxima da minha. Você pode ir comigo para não ir caminhando.

            - Preciso ir sozinho. Caminhar faz bem.

            Bate a porta e sai em direção à escola Wilson Linhares.

 

            Amanda, Will, Solange e Evan estão em sala conversando à espera da chegada do professor quando RR adentra ao recinto. Ele caminha até a cadeira, coloca a mochila e olha para o grupo.

            - Vejo que agora temos uma bichinha em sala. Uiui!

            - Como vai, estranho? No nosso último encontro não tive a oportunidade de me apresentar. Sou Evan Dumaresq.

            - E por que eu teria interesse de conhecer um viadinho. Vê se me erra, coisa!

            - Por que você é sempre sem noção, cara.

            - O cornão saindo em defesa da bichinha? É melhor você prestar bem atenção nisso, Amanda, pode haver mais que amizade aí. Você deve estar namorando uma bicha encubada.

            - Estranho, é melhor a gente parar por aqui. Será que aquela noite não foi suficiente? Estou cansada dessa guerra de vocês.

            Senta-se na cadeira, abre a bolsa e pega o livro de matemática.

            O professor entra em sala e os ânimos se acalmam.

 

            Marília Pinheiro chega à escola Wilson Linhares e caminha-se até a sala do orientador. Bate na porta e adentra. Cumprimenta o senhor Túlio Silva, senta-se na cadeira em frente à mesa do profissional.

            - Fiquei ansiosa com o seu telefonema. O que Ronald Rafael aprontou?

            - Ele e o colega de sala, Willycson Martins, estão se estranhado desde o primeiro dia de aula.

            - Esse menino é um aluno problema?

            - Não. Pelo contrário. Ele sempre foi um dos nossos melhores alunos. Nunca se meteu em confusão. Até estranhei quando fiquei sabendo dos ocorridos e quando presencie um confronto entre os dois durante o intervalo, outro dia.

            - Não seria mais prudente a gente está tendo essa conversa na presença da mãe desse aluno?

            - Pensei nisso, mas, convenhamos que o x da questão aqui é o Ronald Rafael.

            - Como tinha falado antes, quando vim fazer a matrícula dele. Estou passando por um problema com meu filho desde da morte do pai dele. Está muito difícil a nossa relação. Ele não aceita que o pai tenha sido assassinado. Chegou a falar que um dia vai se vingar dos assassinos, já que nem um ainda foi preso. Não consigo dialogar com ele. Hoje mesmo, durante o café da manhã, acabamos discutindo. Tudo é motivo para um bate-boca.

            - Sei que ele está revoltado com tudo que aconteceu com seu esposo, mas precisamos chegar nele, conversar e resolver essa situação. Ele não pode ser um garoto explosivo com tudo e com todos como está sendo. Principalmente no ambiente escolar e com os colegas de turma.

            - Será que podemos conversar com Willycson? Esse garoto pode ser um diferencial. Se ele compreender a situação do meu filho e no lugar de brigar com ele, tentar ser amigo dele.

            - O Will Martins também passou por uma situação nada agradável no ano passado. Uma aluna nossa, amiga e vizinha dele, faleceu em um acidente de carro. Ele ficou muito sentido com a perda, mas conseguiu superar. Mas ainda é muito recente. Acho que pedir para ele entender a revolta do seu filho por causa da morte do pai, pode ser muito para Will. É como voltar a reviver tudo que ele viveu.

            - Compreendo. Mas eu insisto que o melhor caminho seria conversar com a mãe dele e com ele. Juntos poderíamos recuperar o meu filho.

            Túlio fica pensativo por alguns minutos.

            - Tudo bem. Vou entrar em contato com a dona Margareth Martins.

            - Como? Margareth Martins?

            - Sim. É o nome da mãe de Will. Por que o espanto?

            - Por nada. Há mais alguma coisa que queira falar? É que tenho um compromisso. – Olha para o relógio em seu pulso. – E já estou cause atrasada.

            - Não. Agradeço a sua disponibilidade. Vamos fazer de tudo para que seu filho possa superar todos os problemas.

            - Fico muito agradecida. Até mais!

            Ela sai da sala de Túlio Silva, pensativa, caminha ao portão da escola, passa sem ao menos olhar e falar com o porteiro, que se despede dela.

A professora se aproxima do seu veículo que está estacionado na frente da escola, abre a porta, entra e com as mãos na direção fica relembrando a voz do orientador pedagógico: “Margareth Martins”

            - Será que é ela? Não pode ser. Depois de tanto tempo, ela não pode reaparecer assim em nossa vida. Agora não. – Bate as mãos com força sobre a direção do carro.

            Liga o veículo, engata a primeira e sai.